quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Estilista, o profissional muito além do desenho

Ser estilista é estar atento ao comportamento social, observando a economia, política, música e a arte, pois a moda nasce disso

Priscila Magalhães 
Repórter
Disponível em: Acessa.com


Processo de criação, história da moda, desenho, língua estrangeira, corte e costura, modelagem, técnicas de tecelagem e tintura. Estas são algumas disciplinas estudadas nos cursos de moda, de onde saem os estilistas, também conhecidos como figurinistas ou desenhistas de moda.
Criar as coleções e colocá-las no papel é a principal atividade do estilista. Por isso, a criatividade e a habilidade para desenhar são os principais requisitos para ser um bom profissional. "O desenho é o veículo técnico, pois, através dele, demonstramos o que foi imaginado", diz o estilistaCarlos Elias de Souza.
Mas, se você pensa que é só pensar e desenhar, está enganado, pois Carlos também enumera outros requisitos que o profissional de moda precisa ter. "Ele deve ter bom senso, bom gosto e um feeling psicológico para entender o comportamento das pessoas, afinal a moda é criada a partir destes elementos", enumera.
Além disso, ele também coloca que é importante saber captar as necessidades do mercado, e estas necessidades não são as mesmas de desejo de consumo. "Quando a indústria percebe que uma cor está encalhada, por exemplo, ela contrata estilistas, eles criam em cima daquela cor e apresentam a coleção. Mas, existem as pessoas que não querem consumir aquele tipo de roupa e têm outros desejos de consumo".
Academia
Foto de Carlos Elias de SouzaOs cursos de moda são considerados novos no Brasil. Eles foram criados há cerca de dez anos e a profissão não é regulamentada. Existem os cursos técnicos, com formação em dois anos, e os cursos superiores, que duram cerca de quatro anos. Para o estilista, quem se forma no primeiro tem segurado a onda do mercado.
"Quem faz o tecnólogo, geralmente é o profissional que já está atuando na área, então eles satisfazem mais o mercado, do que aqueles que se formam na faculdade", explica. Além disso, Carlos têm observado que os estudantes estão saindo da faculdade sem preparação. "Eles estão inocentes do assunto. Acho que isso é reflexo do despreparo do corpo acadêmico e também por causa da concorrência. Os professores não vão entregar todo o seu conhecimento", revela.
Juiz de Fora já tem duas faculdades que oferecem o curso, sendo um técnico e o outro superior. Os dois são novos e começaram em 2008. Para Carlos, o mercado daqui ainda está fraco, pois a cidade não tem a cultura de moda. O profissional que quiser visibilidade deve procurar outros mercados, como o de São Paulo e Rio de Janeiro.
Na prática
"O que tem prejudicado bastante é o falso glamour que a profissão cria. Todo mundo acha que vai ser famoso e ser milionário. É necessário contar com a sorte e encontrar a pessoa certa para te ajudar a crescer", conta ele. O salário também varia muito, pois, como a profissão não é regulamentada, não existe um teto estipulado. "Tudo depende do profissional e de quem está contratando", diz.
Foto tecidos Foto de tecidos Foto desenhos de roupas
Dentro da profissão de moda, a área em que há maior carência de profissionais é justamente a de criação. Mas, isso não significa que não há profissionais. "O problema é que estes criadores não são valorizados pelas indústrias. Elas preferem fazer a colagem, ou seja, comprar coleções do exterior e desenhar a sua em cima do que foi comprado". Além disso, ele se queixa que algumas indústrias contratam o profissional por temporada, desperdiçando um talento natural e disponível.
Segundo ele, o mercado de tecidos de varejo está em crise e o profissional que for optar por esta área deve ficar atento. A importação de produtos chineses e coreanos está fazendo com que a tecelagem brasileira não consiga concorrer. "O mercado de tecelagem brasileiro está em crise, já que 70% dos produtos estrangeiros são consumidos, mesmo não tendo qualidade e nem se enquadrando no modelo e tamanho dos brasileiros".
Este tipo de mercado vai ser extinto, o que já é "realidade nos grandes centros, como Belo Horizonte, São Paulo e Rio", comenta. Além disso, a rotina é diferente para o estilista que trabalha nessa área, já que, diariamente, aparecem pessoas com gostos e objetivos distintos. "Todos os dias, eu tenho que interpretar as pessoas e saber o que sugerir. É um exercício diário e muito diferente do que vem a ser a profissão do estilista que trabalha em uma única coleção".
Foto desenhos de roupas Foto desenhos de roupas Foto desenhos de roupas
Outros caminhos
Dentro da moda existem outras áreas além do estilismo. Além de desenhar e criar, o profissional pode atuar em produção de moda, quando ele trabalha com a coleção pronta e só a organiza. Há também a área de fotografia, quando ele trabalha, em estúdio e junto com o fotógrafo, na produção das fotos para catálogos.
O profissional também pode atuar na passarela, organizando a seqüência de entrada em um desfile para apresentar a coleção. Há também a opção de trabalhar no jornalismo, com assessoria de moda. Neste caso, ele vai divulgar informações para lojas e clientes, divulgando também o perfil da marca.
Carlos optou pela área de criação há cerca de 20 anos e está satisfeito. O curso superior é de Publicidade e fez cursos técnicos na área de moda para ser estilista. "Pago todas as contas com esta profissão, então sobrevivo do meu trabalho". Sobre os sonhos do passado, alguns ficaram para trás. "Estou estabelecido na profissão apesar de que alguns sonhos não consegui realizar e sei que não vou conseguir mais", confessa.

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