sexta-feira, 29 de abril de 2011

Coluna “Turista Ambiental”: Um novo olhar baseado em lirismo, ação colaborativa e mitologia



Fonte : http://style.greenvana.com/2011/coluna-turista-ambiental-um-novo-olhar-baseado-em-lirismo-colaboracao-e-mitologia/

Ao cruzar o portão e me despedir de um dos períodos mais incríveis da minha vida, me esforcei para resumir: “qual é a principal lição que eu estou levando comigo do curso de ecoliteracy, ou alfabetização ecológica, do Schumacher College?”. Hum, suspirei. Estava diante de um campo maravilhoso, a grama coberta de flores amarelas, as árvores cheias de botões prestes a se abrir e um sol em tom dourado que deixava tudo com um ar mágico de primavera.
Me distrai e parei para observar dois pássaros que carregavam gravetos pelo telhado. Tão concentrados na tarefa de criar uma casa confortável para a família. Me senti absolutamente parte da cena… E entendi: levo comigo a certeza que a maior revolução de nosso tempo começa com a mudança na forma que vemos o mundo, com nosso olhar sobre as relações e o planeta.
A alfabetização ecológica consiste em uma série de transformações em vários níveis, do pessoal ao global. No pessoal, foi incrível; pude pensar muito. Além das aulas, apresentações e passeios guiados, quem estuda no Schumacher tem o privilégio de participar do dia a dia do colégio. Isso inclui cozinhar o jantar, fazer o delicioso pão do café da manhã, cuidar da horta, limpar a sala de jantar e a cozinha após as refeições.
Independentemente da função, todos integram uma rede de relações baseadas na confiança e no cuidado. No último dia, por exemplo, eu e o diretor da escola estávamos na mesma “rota”, varrendo a cozinha e conversando sobre o Brasil, a América Latina. Este tipo de ensino é muito especial, faz com que todos se sintam em casa, parte de uma família. Difícil explicar, mas é maravilhoso sentir tanta liberdade e harmonia entre pessoas do mundo todo. A comunidade se organiza e se autoregula sem regras muito rígidas, adaptando-se sempre para o bem de todos. Essa, aliás, é a ideia por trás da Teoria de Gaia, uma das sólidas bases da alfabetização ecológica.

A Teoria de Gaia foi criada pelo químico James Lovelock. Nos anos 60, ele foi contratado pela NASA para ajudar a obter provas de que havia vida em Marte. Pesquisando amostras da atmosfera marciana e suas propriedades químicas, ele as comparou com a atmosfera da Terra. Enquanto em Marte não poderia haver vida pela falta de indícios de movimentações de gás carbônico e oxigênio, ele percebeu que na Terra ocorria o inverso: uma incrível movimentação de gás carbônico, oxigênio, nitrogênio e quetais. Era como uma “festa muito animada”, como ele descreve, com processos, porém, de autoregulação muito harmônicos, capazes de manter a vida na superfície.
Sua grande descoberta científica foi perceber que a dinâmica de autoregulação da Terra é muito parecida com a que acontece dentro de nossos corpos para que possamos sobreviver. Essa é a marca registrada de um sistema vivo! Ele havia iniciado as pesquisas que o levaram a perceber a Terra como um ser vivo e a batizá-la com o nome da deusa da Terra na Grécia antiga, Gaia.
A teoria de Lovelock nada mais é do que a confirmação com dados científicos do que os indígenas, por exemplo, já sabiam: a Terra é um ser vivo, a mãe Terra para muitos, um cosmos que se organiza em relações das quais fazemos parte, dependemos e diretamente interferimos.
Todos os que vivem nela são parte de Gaia, como as células que compõe o nosso próprio corpo. Somos as constantes RELAÇÕES que mantém o equilíbrio da vida de Gaia. E essa percepção muda tudo… Muda a nossa consciência de quem somos, o que precisamos e como podemos agir em conjunto para um futuro mais decente e nobre.
Para mim, foi muito interessante vivenciar esses conceitos em um ambiente surpreendente, especial e único de convivência comunitária. Pude fazer uma analogia no meu cotidiano de como somos parte de TUDO o que nos rodeia, até mesmo da rotina dos pássaros que moram nos jardins do colégio. Afinal, estamos interligados ao TODO. E nem é preciso ir tão longe como eu fui para entender isso.
E então, que tal colocar lentes coloridas e ecológicas para ver o mundo hoje?

Cristiane Assis é uma jornalista que descobriu a paixão ambiental em suas viagens pelo mundo. Pós-graduada em Educação para Sociedades Sustentáveis pela PUC-RJ, especializou-se em questões socioambientais e ecovilas. Sua coluna é publicada quinzenalmente às quintas-feiras.




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